Transplante de células-tronco humanas combate com sucesso a distrofia muscular em camundongos
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Medicina
Músculos recuperados
Transplante de células-tronco humanas combate
com sucesso a distrofia muscular em camundongos
Roberta de Abreu Lima
Ricardo Benichio
A geneticista Natássia Vieira e uma de suas cobaias: o próximo teste será com cães
A ciência acaba de dar um novo passo em direção à cura da distrofia muscular progressiva, uma doença genética que provoca a degeneração gradual dos músculos. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) conseguiu, pela primeira vez, melhorar o quadro clínico de camundongos portadores da doença com a injeção de células-tronco humanas adultas, que se transformaram em fibras musculares. O trabalho, liderado pela geneticista Mayana Zatz, teve outro resultado relevante: não houve rejeição das células por parte dos camundongos, o que é muito comum em transplantes. A rejeição ocorre porque o organismo dos animais e o dos seres humanos são programados para reagir a qualquer corpo estranho formando anticorpos. Por esse motivo, pacientes transplantados têm de tomar drogas que inibem o sistema imunológico. “A experiência mostrou não apenas que o tratamento com células-tronco funciona, mas que pode ser possível injetá-las sem que o paciente precise usar drogas imunossupressoras”, diz a geneticista Natássia Vieira, responsável pelo estudo, que será publicado na próxima edição da revista americana Stem Cells.
Na pesquisa da USP, as células-tronco foram retiradas de tecido adiposo humano e aplicadas em catorze camundongos, por meio de injeções na cauda, durante seis meses. O material entrou na corrente sanguínea dos roedores e se espalhou por vários órgãos. Nos músculos afetados pela doença, ele se transformou em células musculares e formou novos tecidos. Testes realizados até dois meses depois das aplicações mostraram que os camundongos ficaram mais fortes e resistentes. Os pesquisadores acreditam que não houve rejeição porque foram utilizadas células-tronco especiais chamadas de mesenquimais. Estudos anteriores sugeriram que, quando retiradas de tecido adiposo, essas células não ativam o sistema imunológico, pois não têm antígenos (uma substância que provoca a produção de anticorpos) em sua superfície. A experiência comprovou essa hipótese em camundongos. O próximo passo é repetir o procedimento com cães e, finalmente, com seres humanos.
A distrofia muscular atinge 100.000 brasileiros. Há mais de trinta tipos da doença. O mais comum – e também mais grave – é o de Duchenne, que se manifesta apenas em meninos. Os sintomas iniciais começam a aparecer aos 2 ou 3 anos – fraqueza e dificuldade para realizar movimentos simples, como pular e subir escadas – e pioram progressivamente. Em geral, na adolescência, o paciente é confinado a uma cadeira de rodas. Em estágios adiantados, devido ao enfraquecimento do diafragma, ele passa a ter dificuldade para respirar. Então, é obrigado a utilizar um aparelho de respiração assistida até o fim da vida. Como não há cura, o tratamento consiste em postergar os sintomas com fisioterapia e o uso de corticóides. A pesquisa brasileira é um sinal de esperança para os pacientes de distrofia muscular.
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